Eles não saem do computador?
Não largam o telefone celular? A era digital está mudando os estilos de vida, os comportamentos, os relacionamentos familiares e sociais e a saúde de todos!
Atualmente as crianças e os adolescentes vivem em dois mundos: aquele que todos conhecemos, o mundo real, e o mundo digital ou virtual, que parece muito mais interessante e surpreendente, oferecendo aventuras, oportunidades, a busca pela autonomia, mas também, perigo e riscos à saúde. O espaço cibernético, o mundo da internet e a velocidade da comunicação se tornaram o "lugar vivo de verdade" onde todos se encontram, aprendem, jogam, brincam, brigam, trocam fotos, ganham dinheiro, começam e terminam amizades e namoros.
Nesta realidade virtual, todos os adolescentes podem disfarçar melhor a ansiedade, a confusão, os medos e a alegria da passagem à vida adulta. Podem até superar os pais e muitos professores que nem conseguem ficar conectados ou "plugados". Aliás, o idioma agora é o "internetês" com abreviaturas, emoticons e maneiras diferentes de se expressar e comunicar. Muitos nem conseguem mais escrever no papel e nem sabem o que é caligrafia ou gramática!
A internet atravessou fronteiras, dissolveu barreiras culturais, penetrou bloqueios políticos, vaporizou diferenças sociais e cresceu mais rápido e em todas as direções, superando as expectativas do futuro planejado nos séculos passados e as certezas tecnológicas. Qualquer conhecimento ou informação está disponível com o apertar de um botão e que todos podem ter acesso com liberdade. Usada com respeito e cuidado, a internet pode oferecer aos jovens uma perspectiva mais abrangente do mundo à sua volta, mas pode também se tornar uma ameaça e oferecer riscos à saúde quando se extrapolam os limites entre o real e o virtual, entre o público e o privado, entre a intimidade e a distorção dos fatos ou das imagens "reais".
Novos problemas para os profissionais de saúde, educação, segurança e comunicação e pais que lidam com as crianças e adolescentes no dia a dia. Saber o que é o tecnoestresse, o cyberbullying, as mensagens dos videogames, as lan houses e controlar as webcams já são novidades. E, ainda, prevenir os problemas e tantas outras ameaças à saúde desta geração digital, deve servir de alerta de atualização nos ambulatórios e consultórios. As recomendações sobre o que fazer para transformar o uso da internet numa fonte mais segura, ética, educativa e saudável de conhecimentos e como ponte de diálogo entre as gerações devem fazer agora parte da rotina dos atendimentos da criança e do adolescente e de suas famílias!
PRINCIPAIS RISCOS À SAÚDE
Se pudéssemos definir qual a geração digital, provavelmente, teríamos que considerar os adultos jovens que hoje têm 25 anos, quase a idade da internet. Muitos jogos de videogames que faziam sucesso, naquela época, como o Super Mario Bros produzido pela Nintendo são ainda hoje a porta de entrada para as crianças na longa teia da rede mundial de computadores. A primeira mensagem SMS foi enviada em 1992, os sites começaram a surgir em 1995 e o programa de correio eletrônico Hotmail apareceu em 1998, quando estas crianças ainda estavam no ensino médio. Em poucos anos, uma revolução, nem tão silenciosa, foi invadindo todas as casas e universidades e muitas escolas, inclusive públicas. Os primeiros sistemas de redes sociais, como o Orkut, apareceram em 2002 e o Skype, sistema de comunicação é de 2003. O Youtube, que exibe filmes e vídeos, surgiu em 2005 e marcou o momento em que aqueles jovens estavam entrando para a universidade.
Esses jovens cresceram num universo paralelo ao dos pais e de muitos de seus professores. Foram construindo novos conceitos, mudando comportamentos (Quad.1) e, com isso, forçando as empresas de tecnologia e indústrias a criar novos produtos e a se adaptar a um novo e crescente mercado: o do mundo digital. Computador, laptop, telefone celular, iPods, games e mensagens de textos ou blogs fazem parte da parafernália do cotidiano e que para muitos adultos ainda são enigmas complicadíssimos. Os adolescentes de hoje fotografam tudo com seus sofisticados celulares, têm acesso a todas as informações nos seus computadores e sabem de tudo em tempo real. São ágeis, curiosos, informados e dominam a tecnologia. Não são mais o futuro, porque o futuro já é. Mesmo assim, ainda existe a queda do rendimento escolar, as dificuldades do diálogo, um paradoxal isolamento no meio da rede de tantos contatos e conexões e a falta de comunicação do afeto nas famílias onde todos ficam "perdidos". 'Com-viver' num mundo em constante e cada vez mais veloz transformação pode ocasionar riscos e problemas à saúde, durante uma fase de crescimento e desenvolvimento onde talvez a maturação cerebral seja estimulada por tantas imagens coloridas em pixels que formam confusões e também problemas de memória e de concentração. Será que o pediatra ou o médico da família saberá lidar com isso ou resolver esta nova situação?
Evelyn Eisenstein1
Susana B.Estefenon2
1. Médica Psiquiatra pela UERJ; Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Neurologia e Neurociências da UFF.
2. Presidente do Instituto Integral do Jovem INJO.
Veja toda a pesquisa em: Fonte (https://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=105)